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quinta-feira, 13 de março de 2008

Crise entre Equador e Colômbia não fêz Brasil reforçar controle na fronteira, diz general

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Categoria: artigo
Autor:Sabrina Craide
Fonte: Agência Brasil


Brasília - O general Augusto Heleno Ribeiro está à frente do Comando Militar da Amazônia desde setembro do ano passado. Ele tem sob sua responsabilidade a segurança de 11,5 mil quilômetros de fronteiras, no meio da selva.Nessa entrevista exclusiva à Agência Brasil, o general conta quais são as principais dificuldades do trabalho militar na Amazônia e avalia a situação de conflito entre os países da América Latina. Ele garante que não houve nenhum tipo de mobilização das Forças Armadas Brasileiras devido ao recente desentendimento entre a Colômbia e o Equador, e diz que o Brasil tem que se preocupar em ter Forças Armadas “à altura de sua estatura estratégica” e em reaparelhar as equipes com armamentos individuais e meios de transporte mais ágeis.Agência Brasil: Qual é a extensão da fronteira que está sob sua responsabilidade?
Augusto Heleno Ribeiro: A nossa fronteira na Amazônia é de 11,5 mil quilômetros. É uma fronteira de características muito especiais, porque a grande parte é área de selva, de mata fechada, algumas balizadas por cursos d'água, outras sem nenhum balizamento, a não ser marcos de fronteiras que são instalados mas não são vistos. Nessa área de 11,5 mil quilômetros temos um dispositivo que consideramos razoável para a vigilância dessa fronteira. É uma fronteira de pontos nítidos de penetração, principalmente os rios que vêm dos outros países, entram na Amazônia brasileira, e temos na maioria das calhas desses rios mais importantes os nossos Pelotões Especiais de Fronteira, que têm de 40 a 60 militares e que são tenentes e sargentos especialistas em operações na selva e cabos e soldados da área, que conhecem profundamente a selva amazônica, e que têm a selva como aliada. Eu tenho dito que o nosso grande poder de dissuasão é a qualidade do nosso combatente de selva, que é inegavelmente o melhor combatente de selva do mundo. É baseado nisso que nós confiamos no nosso poder de dissuasão.ABr: Quantos homens existem para defender a região?
Ribeiro: Nós temos hoje na Amazônia 25 mil militares, mas não estão todos na fronteira. Na fronteira, nós temos 28 organizações militares: 26 Pelotões Especiais de Fronteira, duas Companhias Especiais de Fronteira, que têm de 150 a 180 militares, e três destacamentos, com um efetivo um pouco menor, e que mais tarde serão transformados em Pelotões Especiais de Fronteira. Mas é um dispositivo que consegue fazer uma vigilância efetiva da fronteira, e temos mais a retaguarda, os batalhões especiais de fronteira e as brigadas de infantaria de selva, que são responsáveis por esses pelotões de fronteiras que estão lá na frente e que têm condições, em caso de necessidade, de reforçar e apoiar esses elementos de primeiro escalão que ficam exatamente junto à fronteira.ABr: As condições de trabalho são satisfatórias?Ribeiro: As condições de trabalho na Amazônia são sempre muito difíceis. É uma área especial, onde o calor, a umidade e a própria selva, para quem não está habituado são adversários poderosos, então tem que considerar que as condições climáticas exigem muito do homem daqui. A gente quando chega aqui precisa de um período de adaptação para o organismo poder se habituar àquela perda de líquido que é natural numa umidade muito alta, um calor intenso. Esses nossos militares já têm essa adaptação, são homens, a maioria gente da área, que não têm nenhum problema dentro da selva. Mas os Pelotões Especiais de Fronteira são clareiras na selva, onde as condições de vida são bastante precárias. Ainda hoje, no início do século 21, eles não têm luz 24 horas por dia, precisam ter um apoio mais efetivo do ponto de vista de recursos de comando e controle, capacidade de se ligar aos seus comandantes de brigada e mesmo a Manaus ou a Belém com mais facilidade.ABr: É preciso um reaparelhamento?
Ribeiro: É interessante que a gente se preocupe em reaparelhar essa unidades com equipamentos individuais. Nosso fuzil, que é o armamento individual do combatente, tem 43 anos de uso, as nossas lanchas voadeiras podem ser melhores, mais rápidas, mais potentes, nós precisamos ter mais meios aéreos aqui na Amazônia, principalmente helicópteros, que me permitem um deslocamento rápido e quase sempre com qualquer condição meteorológica. E não é só para efeito de guerra. Eles são extremamente importantes como auxílio à população, porque toda vez que tem uma situação de calamidade na Amazônia nós somos requisitados imediatamente, seja seca, enchente, gente que precisa ser evacuada para um atendimento médico melhor, então eu preciso de meios que me permitam deslocar rapidamente na área amazônica. Os rios são as grandes estradas da Amazônia, mas o transporte fluvial é lento. O transporte que funciona melhor é o aéreo. Então, os meios de transporte aéreos aqui na Amazônia são fundamentais, não só para operações militares mas também para o que chamamos de 'mão amiga', para que o Exército possa atuar em todos os momentos de crise ou de calamidade.ABr: Existe perspectiva de melhorar essas condições?
Ribeiro: Quem trata desse aparelhamento do Exército é o Estado Maior do Exército, junto com o Ministério da Defesa, e nós temos a promessa de que isso deve acontecer. O próprio Presidente da República, em almoço com oficiais generais, colocou claramente que ele acha que um país com a importância estratégica do Brasil não pode deixar de ter Forças Armadas muito bem equipadas, muito bem preparadas e muito bem pagas. Então, nós esperamos que essas promessas sejam cumpridas.ABr: Como o senhor avalia a recente crise entre a Colômbia e o Equador?Ribeiro: Houve um ataque numa base guerrilheira das Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] que estava no interior do território do Equador. Não nos afetou em nada, foi bastante longe da nossa fronteira. Exatamente por isso, quando fui perguntado, eu disse: 'não vou movimentar tropas, não vou reforçar as minhas unidades junto à fronteira'. Primeiro, porque não havia necessidade, eu não tinha nenhuma informação de que isso pudesse se irradiar para dentro do território nacional. E também para contribuir com a postura do governo, que desde o início foi uma postura histórica do Brasil de, numa situação dessas, buscar atuar como um poder moderador, buscando a conciliação. E os nossos diplomatas, que são extremamente experientes e competentes nesse tipo de ação trabalharam muito bem na OEA [Organização dos Estados Americanos], a nossa participação foi fundamental e se conseguiu um acordo e a situação voltou praticamente à normalidade. Lógico, que sempre fica uma situação para aos poucos voltar à normalidade. Mas para nós, não teve nenhum reflexo, eu garanto que em termos de território brasileiro as ações ficaram em nível diplomático. ABr: Não houve nenhum alerta ou uma mobilização especial das tropas?
Ribeiro: Não, não havia necessidade. Nenhuma das forças, nem Exército, nem Marinha, nem Aeronáutica mexeu no seu dispositivo, porque nós verificamos que não havia situação que nos levasse a esse tipo de atitude.ABr: O senhor acha que ainda pode acontecer uma situação de confronto entre os países da América Latina?
Ribeiro: Eu espero que isso não venha a ocorrer. O nosso papel aqui na América Latina é exatamente de ser um país, que por sua dimensão continental, naturalmente tem uma posição de destaque pelas suas características, pela sua economia, situação geopolítica. Temos uma relação cordial com todos os vizinhos e sempre que podemos trabalhamos para que os nossos vizinhos não tenham nenhuma alteração entre eles. Foi assim no caso da situação do Peru com o Equador alguns anos atrás na serra do Condor, quando nós atuamos na busca do entendimento, e agora também na situação da Colômbia com o Equador, que não é um país vizinho, mas é um país amigo. Creio que temos que torcer para que esses pequenos contenciosos não venham a desembocar numa situação de conflito armado que é extremamente desagradável, são países que lutam por uma situação melhor econômica e social, buscam vencer as desigualdades sociais, e qualquer tipo de conflito é sempre muito sofrido para o povo. Além de ser sofrido para os próprios militares, que são os primeiros a serem atingidos, mas a população também sofre bastante, não há conflito sem consequência para a população.ABr: No caso de haver um conflito armado na América Latina, o Brasil está preparado para defender suas fronteiras?
Ribeiro: Eu acho que nós temos que nos preocupar em ter Forças Armadas compatíveis com a nossa capacidade estratégica. Nós temos um papel estratégico que vai ser cada vez maior. À medida que a nossa economia for avançando, que o Brasil for se tornando uma potência de nível médio, nós teremos, inevitavelmente, que respaldar algumas das nossas decisões, das nossas posturas diplomáticas inclusive, com forças de dissuasão que estejam por trás dessas decisões. Isso tem sido dito por muitos estudiosos, eu estou só repetindo o que tem sido dito, que nós temos que nos preocupar com isso. Não podemos ser tão imprudentes e avaliar que jamais teremos que mostrar que por trás de uma determinada postura existe uma força militar que dá sustentação a essa determinada postura. O problema de garantia da soberania não é um problema das Forças Armadas. É missão das Forças Armadas, mas é um problema nacional, porque interessa ao país como um todo. Não podemos nos esquecer que nós teremos, inevitavelmente, que ter Forças Armadas à altura da nossa estatura estratégica.

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