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A Rússia Versus Israel

sábado, 15 de março de 2008

A desajada das gentes

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Categoria: Obra completa
Autor:Machado de Assis



Casa das Raizes




— Ah! Conselheiro, aí começa a falar em verso.
— Todos os homens devem ter uma lira no coração, — ou não sejam
homens. Que a lira ressoe a toda a hora, nem por qualquer motivo, não o digo eu,
mas de longe em longe, e por algumas reminiscências particulares... Sabe por que é
que lhe pareço poeta, apesar das Ordenações do Reino e dos cabelos grisalhos? é
porque vamos por esta Glória adiante, costeando aqui a Secretaria de
Estrangeiros... Lá está o outeiro célebre... Adiante há uma casa..
— Vamos andando.
— Vamos... Divina Quintília! Todas essas caras que aí passam são outras,
mas falam-me daquele tempo, como se fossem as mesmas de outrora; é a lira que
ressoa, e a imaginação faz o resto. Divina Quintília!
— Chamava-se Quintília? Conheci de vista, quando andava na Escola de
Medicina, uma linda moça com esse nome. Diziam que era a mais bela da cidade.
— Há de ser a mesma, porque tinha essa fama. Magra e alta?
— Isso. Que fim levou?
— Morreu em 1859. Vinte de abril. Nunca me há de esquecer esse dia. Vou
contar-lhe um caso interessante para mim, e creio que também para o senhor. Olhe,
a casa era aquela... Morava com um tio, chefe de esquadra reformado, tinha outra
casa no Cosme Velho. Quando conheci Quintília... Que idade pensa que teria,
quando a conheci?
— Se foi em 1855...
— Em 1855.
— Devia ter vinte anos.
— Tinha trinta.
— Trinta?
— Trinta anos. Não os parecia, nem era nenhuma inimiga que lhe dava essa
idade. Ela própria a confessava e até com afetação. Ao contrário, uma de suas
amigas afirmava que Quintília não passava dos vinte e sete; mas como ambas
tinham nascido no mesmo dia, dizia isso para diminuir-se a si própria.
— Mau, nada de ironias; olhe que a ironia não faz boa cama com a saudade.
— Que é a saudade senão uma ironia do tempo e da fortuna? Veja lá;
começo a ficar sentencioso. Trinta anos; mas em verdade, não os parecia. Lembrase
bem que era magra e alta; tinha os olhos como eu então dizia, que pareciam
cortados da capa da última noite, mas apesar de noturnos, sem mistérios nem
abismos. A voz era brandíssima, um tanto apaulistada, a boca larga, e os dentes,
quando ela simplesmente falava, davam-lhe à boca um ar de riso. Ria também, e
foram os risos dela, de parceria com os olhos, que me doeram muito durante certo
tempo.
— Mas se os olhos não tinham mistérios...
— Tanto não os tinham que cheguei ao ponto de supor que eram as portas
abertas do castelo, e o riso o clarim que chamava os cavaleiros. Já a conhecíamos,
eu e o meu companheiro de escritório, o João Nóbrega, ambos principiantes na
advocacia, e íntimos como ninguém mais; mas nunca nos lembrou namorá-la. Ela
andava então no galarim; era bela, rica, elegante, e da primeira roda. Mas um dia, no
antigo Teatro Provisório entre dois atos dos Puritanos, estando eu num corredor,
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ouvi um grupo de moços que falavam dela, como de uma fortaleza inexpugnável.
Dous confessaram haver tentado alguma cousa, mas sem fruto; e todos pasmavam
do celibato da moça que lhes parecia sem explicação. E chalaceavam: um dizia que
era promessa até ver se engordava primeiro; outro que estava esperando a segunda
mocidade do tio para casar com ele; outro que provavelmente encomendara algum
anjo ao porteiro do céu; trivialidades que me aborreceram muito, e da parte dos que
confessavam tê-la cortejado ou amado, achei que era uma grosseria sem nome. No
que eles estavam todos de acordo é que ela era extraordinariamente bela; aí foram
entusiastas e sinceros.
— Oh! ainda me lembro!... era muito bonita.
— No dia seguinte, ao chegar ao escritório, entre duas causas que não
vinham, contei ao Nóbrega a conversação da véspera. Nóbrega riu-se do caso,
refletiu, e depois de dar alguns passos, parou diante de mim, olhando, calado. —
Aposto que a namoras? perguntei-lhe. — Não, disse ele; nem tu? Pois lembrou-me
uma cousa: vamos tentar o assalto à fortaleza? Que perdemos com isso? Nada, ou
ela nos põe na rua, e já podemos esperá-lo, ou aceita um de nós, e tanto melhor
para o outro que verá o seu amigo feliz. — Estás falando sério? — Muito sério. —
Nóbrega acrescentou que não era só a beleza dela que a fazia atraente. Note que
ele tinha a presunção de ser espírito prático, mas era principalmente um sonhador
que vivia lendo e construindo aparelhos sociais e políticos. Segundo ele, os tais
rapazes do teatro evitavam falar dos bens da moça, que eram um dos feitiços dela, e
uma das causas prováveis da desconsolação de uns e dos sarcasmos de todos. E
dizia-me: — Escuta, nem divinizar o dinheiro, nem também bani-lo; não vamos crer
que ele dá tudo, mas reconheçamos que dá alguma cousa e até muita cousa, —
este relógio, por exemplo. Combatamos pela nossa Quintília, minha ou tua, mas
provavelmente minha, porque sou mais bonito que tu.
— Conselheiro, a confissão é grave, foi assim brincando...?
— Foi assim brincando, cheirando ainda aos bancos da academia, que nos
metemos em negócio de tanta ponderação, que podia acabar em nada, mas deu
muito de si. Era um começo estouvado, quase um passatempo de crianças, sem a
nota da sinceridade; mas o homem põe e a espécie dispõe. Conhecíamo-la, posto
não tivéssemos encontros freqüentes; uma vez que nos dispusemos a uma ação
comum, entrou um elemento novo na nossa vida, e dentro de um mês estávamos
brigados.
— Brigados?
— Ou quase. Não tínhamos contado com ela, que nos enfeitiçou a ambos,
violentamente. Em algumas semanas já pouco falávamos de Quintília, e com
indiferença; tratávamos de enganar um ao outro e dissimular o que sentíamos. Foi
assim que as nossas relações se dissolveram, no fim de seis meses, sem ódio, nem
luta, nem demonstração externa, porque ainda nos falávamos, onde o acaso nos
reunia; mas já então tínhamos banca separada.
— Começo a ver uma pontinha do drama...
— Tragédia, diga tragédia; porque daí a pouco tempo, ou por desengano
verbal que ela lhe desse, ou por desespero de vencer, Nóbrega deixou-me só em
campo. Arranjou uma nomeação de juiz municipal lá para os sertões da Bahia, onde
definhou e morreu antes de acabar o quatriênio. E juro-lhe que não foi o inculcado
espírito prático de Nóbrega que o separou de mim; ele, que tanto falara das
vantagens do dinheiro, morreu apaixonado como um simples Werther.
— Menos a pistola.

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—Também o veneno mata; e o amor de Quintília podia dizer-se alguma cousa
parecido com isso, foi o que o matou, e o que ainda hoje me dói... Mas, vejo pelo
seu dito que o estou aborrecendo.. .
— Pelo amor de Deus. Juro-lhe que não; foi uma graçola que me escapou.
Vamos adiante, conselheiro; ficou só em campo.
— Quintília não deixava ninguém estar só em campo, — não digo por ela,
mas pelos outros. Muitos vinham ali tomar um cálix de esperanças, e iam cear a
outra parte. Ela não favorecia a um mais que a outro, mas era lhana, graciosa e
tinha essa espécie de olhos derramados que não foram feitos para homens
ciumentos. Tive ciúmes amargos e, às vezes, terríveis. Todo argueiro me parecia um
cavaleiro, e todo cavaleiro um diabo. Afinal acostumei-me a ver que eram
passageiros de um dia. Outros me metiam mais medo, eram os que vinham dentro
da luva das amigas. Creio que houve duas ou três negociações dessas, mas sem
resultado. Quintília declarou que nada faria sem consultar o tio, e o tio aconselhou a
recusa, — cousa que ela sabia de antemão. O bom velho não gostava nunca da
visita de homens, com receio de que a sobrinha escolhesse algum e casasse.
Estava tão acostumado a trazê-la ao pé de si, como uma muleta da velha alma
aleijada, que temia perdê-la inteiramente.
— Não seria essa a causa da isenção sistemática da moça?
— Vai ver que não.
— O que noto é que o senhor era mais teimoso que os outros...
— ... Iludido, a princípio, porque no meio de tantas candidaturas malogradas,
Quintília preferia-me a todos os outros homens, e conversava comigo mais
largamente e mais intimamente, a tal ponto que chegou a correr que nos
casávamos.
— Mas conversavam de quê?
— De tudo o que ela não conversava com os outros; e era de fazer pasmar
que uma pessoa tão amiga de bailes e passeios, de valsar e rir, fosse comigo tão
severa e grave, tão diferente do que costumava ou parecia ser.
— A razão é clara: achava a sua conversação menos insossa que a dos
outros homens.
— Obrigado; era mais profunda a causa da diferença, e a diferença ia-se
acentuando com os tempos. Quando a vida cá embaixo a aborrecia muito, ia para o
Cosme Velho, e ali as nossas conversações eram mais freqüentes e compridas. Não
lhe posso dizer, nem o senhor compreenderia nada, o que foram as horas que ali
passei, incorporando na minha vida toda a vida que jorrava dela. Muitas vezes quis
dizer-lhe o que sentia, mas as palavras tinham medo e ficavam no coração. Escrevi
cartas sobre cartas; todas me pareciam frias, difusas, ou inchadas de estilo. Demais,
ela não dava ensejo a nada, tinha um ar de velha amiga. No princípio de 1857
adoeceu meu pai em Itaboraí; corri a vê-lo, achei-o moribundo. Este fato reteve-me
fora da Corte uns quatro meses. Voltei pelos fins de maio. Quintília recebeu-me triste
da minha tristeza, e vi claramente que o meu luto passara aos olhos dela...
— Mas que era isso senão amor?
— Assim o cri, e dispus a minha vida para desposá-la. Nisto, adoeceu o tio
gravemente. Quintília não ficava só, se ele morresse, porque, além dos muitos
parentes espalhados que tinha, morava com ela agora, na casa da Rua do Catete,
uma prima, D. Ana, viúva; mas, é certo que a afeição principal ia-se embora e nessa
transição da vida presente à vida ulterior podia eu alcançar o que desejava. A
moléstia do tio foi breve; ajudada da velhice, levou-o em duas semanas. Digo-lhe
aqui que a morte dele lembrou-me a de meu pai, e a dor que então senti foi quase a

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mesma. Quintília viu-me padecer, compreendeu o duplo motivo, e, segundo me
disse depois, estimou a coincidência do golpe, uma vez que tínhamos de o receber
sem falta e tão breve. A palavra pareceu-me um convite matrimonial; dois meses
depois cuidei de pedi-la em casamento. D. Ana ficara morando com ela e estavam
no Cosme Velho. Fui ali, achei-as juntas no terraço, que ficava perto da montanha.
Eram quatro horas da tarde de um domingo. D. Ana, que nos presumia namorados,
deixou-nos o campo livre.
— Enfim!
— No terraço, lugar solitário, e posso dizer agreste, proferi a primeira palavra.
O meu plano era justamente precipitar tudo, com medo de que, cinco minutos de
conversa me tirassem as forças. Ainda assim, não sabe o que me custou; custaria
menos uma batalha, e juro-lhe que não nasci para guerras. Mas aquela mulher
magrinha e delicada impunha-se-me, como nenhuma outra, antes e depois...
— E então?
— Quintília adivinhara, pelo transtorno do meu rosto, o que lhe ia pedir, e
deixou-me falar para preparar a resposta. A resposta foi interrogativa e negativa.
Casar para quê? Era melhor que ficássemos amigos como dantes. Respondi-lhe que
a amizade era, em mim, desde muito, a simples sentinela do amor; não podendo
mais contê-lo, deixou que ele saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que me doeu, e
sem razão; ela, vendo o efeito, fez-se outra vez séria e tratou de persuadir-me de
que era melhor não casar. — Estou velha, disse ela; vou em trinta e três anos. —
Mas se eu a amo assim mesmo, repliquei, e disse-lhe uma porção de cousas, que
não poderia repetir agora. Quintília refletiu um instante; depois insistiu nas relações
de amizade; disse que, posto que mais moço que ela, tinha a gravidade de um
homem mais velho e inspirava-lhe confiança como nenhum outro. Desesperançado,
dei algumas passadas, depois sentei-me outra vez e narrei-lhe tudo. Ao saber da
minha briga com o amigo e companheiro da academia, e a separação em que
ficamos, sentiu-se, não sei se diga, magoada ou irritada. Censurou-nos a ambos,
não valia a pena que chegássemos a tal ponto. — A senhora diz isso porque não
sente a mesma cousa. — Mas então é um delírio? — Creio que sim; o que lhe
afianço é que ainda agora, se fosse necessário, separar-me-ia dele uma e cem
vezes; e creio poder afirmar-lhe que ele faria a mesma cousa. Aqui olhou ela
espantada para mim, como se olha para uma pessoa cujas faculdades parecem
transtornadas; depois abanou a cabeça, e repetiu que fora um erro; não valia a
pena. — Fiquemos amigos, disse-me, estendendo a mão. — É impossível; pede-me
cousa superior às minhas forças, nunca poderei ver na senhora uma simples amiga;
não desejo impor-lhe nada; dir-lhe-ei até que nem mais insisto, porque não aceitaria
outra resposta agora. Trocamos ainda algumas palavras, e retirei-me... Veja a minha
mão.
— Treme-lhe ainda...
— E não lhe contei tudo. Não lhe digo aqui os aborrecimentos que tive, nem a
dor e o despeito que me ficaram. Estava arrependido, zangado, devia ter provocado
aquele desengano desde as primeiras semanas, mas a culpa foi da esperança, que
é uma planta daninha, que me comeu o lugar de outras plantas melhores. No fim de
cinco dias saí para Itaboraí, onde me chamaram alguns interesses do inventário de
meu pai. Quando voltei, três semanas depois, achei em casa uma carta de Quintília.
— Oh!
— Abri-a alvoroçadamente: datava de quatro dias. Era longa; aludia aos
últimos sucessos, e dizia cousas meigas e graves. Quintília afirmava ter esperado
por mim todos os dias, não cuidando que eu levasse o egoísmo até não voltar lá
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mais, por isso escrevia-me, pedindo que fizesse dos meus sentimentos pessoais e
sem eco uma página de história acabada; que ficasse só o amigo, e lá fosse ver a
sua amiga. E concluía com estas singulares palavras: "Quer uma garantia? Juro-lhe
que não casarei nunca." Compreendi que um vínculo de simpatia moral nos ligava
um ao outro; com a diferença que o que era em mim paixão específica, era nela uma
simples eleição de caráter. Éramos dois sócios, que entravam no comércio da vida
com diferente capital: eu, tudo o que possuía; ela, quase um óbolo. Respondi à carta
dela nesse sentido; e declarei que era tal a minha obediência e o meu amor, que
cedia, mas de má vontade, porque, depois do que se passara entre nós, ia sentir-me
humilhado. Risquei a palavra ridículo, já escrita, para poder ir vê-la sem este
vexame; bastava o outro.
— Aposto que seguiu atrás da carta? É o que eu faria, porque essa moça, ou
eu me engano ou estava morta por casar com o senhor.
— Deixe a sua fisiologia usual; este caso é particularíssimo.
— Deixe-me adivinhar o resto; o juramento era um anzol místico; depois, o
senhor, que o recebera, podia desobrigá-la dele, uma vez que aproveitasse com a
absolvição. Mas, enfim, correr à casa dele.
— Não corri; fui dous dias depois. No intervalo, respondeu ela à minha carta
com um bilhete carinhoso, que rematava com esta idéia: "não fale de humilhação,
onde não houve público." Fui, voltei uma e mais vezes e restabeleceram-se as
nossas relações. Não se falou em nada; ao princípio, custou-me muito parecer o que
era dantes; depois, o demônio da esperança veio pousar outra vez no meu coração;
e, sem nada exprimir, cuidei que um dia, um dia tarde, ela viesse a casar comigo. E
foi essa esperança que me retificou aos meus próprios olhos, na situação em que
me achava. Os boatos de nosso casamento correram mundo. Chegaram aos nossos
ouvidos; eu negava formalmente e sério; ela dava de ombros e ria. Foi essa fase da
nossa vida a mais serena para mim, salvo um incidente curto, um diplomata
austríaco ou não sei que, rapagão, elegante, ruivo, olhos grandes e atrativos, e
fidalgo ainda por cima. Quintília mostrou-se-lhe tão graciosa, que ele cuidou estar
aceito, e tratou de ir adiante. Creio que algum gesto meu, inconsciente, ou então um
pouco da percepção fina que o céu lhe dera, levou depressa o desengano à legação
austríaca. Pouco depois ela adoeceu; e foi então que a nossa intimidade cresceu de
vulto. Ela, enquanto se tratava, resolveu não sair, e isso mesmo lhe disseram os
médicos. Lá passava eu muitas horas diariamente. Ou elas tocavam, ou jogávamos
os três, ou então lia-se alguma cousa; a maior parte das vezes conversávamos
somente. Foi então que a estudei muito; escutando as suas leituras vi que os livros
puramente amorosos achava-os incompreensíveis, e, se as paixões aí eram
violentas, largava-os com tédio. Não falava assim por ignorante; tinha notícia vaga
das paixões, e assistira a algumas alheias.
— De que moléstia padecia?
— Da espinha. Os médicos diziam que a moléstia não era talvez recente, e ia
tocando o ponto melindroso. Chegamos assim a 1859. Desde março desse ano a
moléstia agravou-se muito; teve uma pequena parada, mas para os fins do mês
chegou ao estado desesperador. Nunca vi depois criatura mais enérgica diante da
iminente catástrofe; estava então de uma magreza transparente, quase fluida; ria, ou
antes, sorria apenas, e vendo que eu escondia as minhas lágrimas, apertava-me as
mãos agradecida. Um dia, estando só com o médico, perguntou-lhe a verdade; ele ia
mentir, ela disse-lhe que era inútil, que estava perdida. — Perdida, não, murmurou o
médico. — Jura que não estou perdida? — Ele hesitou, ela agradeceu-lho. Uma vez
certa que morria, ordenou o que prometera a si mesma.

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— Casou com o senhor, aposto?
— Não me relembre essa triste cerimônia; ou antes, deixe-me relembrá-la,
porque me traz algum alento do passado. Não aceitou recusas nem pedidos meus;
casou comigo à beira da morte. Foi no dia 18 de abril de 1859. Passei os últimos
dois dias, até 20 de abril ao pé da minha noiva moribunda, e abracei-a pela primeira
vez feita cadáver.
— Tudo isso é bem esquisito.
— Não sei o que dirá a sua fisiologia. A minha, que é de profano, crê que
aquela moça tinha ao casamento uma aversão puramente física. Casou meio
defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, se quer, mas acrescente divino.


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A carteira
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A causa secreta
A chave
A chinela turca
Adao e eva

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